segunda-feira, 28 de outubro de 2013

– Eu tenho que levar algumas tulipas para a cidade, você quer me ajudar?
Olhei para ele sem ânimo algum. Não achava diversão em arrancar flores, muito menos na companhia de alguém que quase não me lembrava.
– Acho que não. – neguei um pouco sem graça. – Não gosto de flores arrancadas.
– Como assim? – seus olhos refletiam uma curiosidade estranha.
– Bem, é cadavérico. – tentei explicar. – Você arranca uma flor para colocar em um vaso, e ficará vendo-a morrer um pouco a cada dia, falecendo em prestações macabras. – estremeci o corpo e apertei meus olhos. – Isso é insano! Não vejo beleza nisso. 
– Mas é uma morte bela, não acha? – sondou ele.
– Não vejo beleza na morte, tio. – respondi rispidamente. – Jamais haverá beleza em algo que deixa de existir, principalmente por causa de sentimentos falhos, fracos e cheios de lacuna como o amor da grande maioria das pessoas. – inspirei cheia de certeza, desprendendo-me das convenções sociais. – Lugar de flor é na terra. Eu espero nunca receber um buquê de flores, prefiro que me presenteiem com um pacote de sementes, isso é prova de amor.
– Um pacote de sementes, Sofia? – perguntou com o mesmo tom que os céticos e sãs carregam quando tentam discutir com os loucos apaixonados.
Abri um sorriso cínico, torcendo o canto dos lábios.
– Uma flor arrancada não é prova de amor; é prova da morte do amor, informando que o sentimento tem data de validade, é perecível como tantas outras emoções e momentos românticos. – levei dois dedos até a minha testa e apertei com cuidado, acionando algum lugar especial em minha mente. – Mas as sementes simbolizam a continuidade do amor, mesmo quando a primavera passar. O amor deve ser cultivado diariamente, regado com paciência, carinho, compreensão, respeito, companheirismo, – eu ia fazendo uma lista em meus dedos, simploriamente – dedicação, cuidado. O amor não nasce belo como uma rosa comprada em uma floricultura qualquer, nasce feinho, cheio de defeitos, frágil, com possibilidades de jamais vingar. E por isso, é preciso de cada um que acredite no amor, se torne um jardineiro, proteja o amor dos agentes naturais que insistem em destruí-lo. O amor é uma flor, uma árvore, tanto faz… – afastei a continuidade com um leve lançar de mão – que necessita de responsabilidade e capacidade para alcançar o ápice da sua beleza. – lancei um olhar frio para meu tio, não com a intenção em incomodá-lo, mas por saber que minha cabeça vagava em cada palavra, refletindo a minha agonia. – Por isso, caro tio, o amor é uma dádiva para poucos, mesmo que todos sejam pré-fabricados para amar nem todos conseguem prolongar o amor.





— Trecho de “AS BORBOLETAS TAMBÉM CHORAM

- Sempre seremos assim, minha tulipa selvagem?
- Como?
- Um tratado de adeus com gosto de recomeço?


— Faah Bastos

– Então é isso? Você ainda vive das mágoas passadas?
– Não. E é exatamente por isso que não quero você de volta.


O Doce Veneno da Ambrósia, pág. 431
Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.



Pablo Neruda

sábado, 19 de outubro de 2013


Calmamente ela desistia das pessoas. E com o passar do tempo, e quanto mais o sol nascia na sua janela, mais calmante ela desistia. Na impossibilidade de não amanhecer todos os dias, mansamente ela vivia. Aprendia todos os dias a suavemente desistir, sabiamente desistir de tudo o que resiste, ou deseja com fraqueza. Por que ela acreditava que amor não se pede e então, se tivesse que pedir, partia. E ao longo dos dias que se sucediam ela ia ganhando o ar sereno daqueles que sabem desistir em paz. Aprendeu com o tempo a usar sua força naquilo que valia a pena. E se alguém por ventura quisesse ficar, então ela amava. Amava intensamente. Amava com a força daqueles que não desistem nunca daquilo que quer estar. 


- Andréa Beheregaray 

Você irá amá-la, mesmo que, de repente, você se de conta disso um pouco tarde, amará além da conta, perderá noites de sono, lembrará de todas as vezes que ela sorriu e seu mundo ficou mais colorido e preenchido. Lembrará da voz, das crises de ciúmes e da mania que ela tem de se esconder da própria timidez. Você amará os passos dela, até mesmo os passos em falso, amará cada centímetro da cintura dela, do corpo dela escorregando no teu. Amará os olhos que dizem mais que a boca, amará a imperfeição e toda a perfeição que ela carrega na alma. Você estará perdidamente apaixonado, quando descobrir que só a risada dela te traz sono e traz paz. Ela será anjo e demônio, será deusa e discórdia, e você a amará, com corpo, alma e todas as suas vísceras viradas no avesso. Porque ela te colocará de pernas para o ar, mas te dará vida e folego pra continuar.É na saliva dela que você vai matar sua sede, na pele dela que você vai desenhar o amor e as suas teorias bregas, pois com ela você aprendeu a rezar e ao mesmo tempo sentiu que podia ir do inferno ao céu em segundos, porque ela é a única que te rouba o chão, os pés, mas só ela é capaz de dar-lhe asas. Porque é ela é o encaixe, e nenhuma outra mais combina com você. 


- Ju Fuzetto