quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

“Segunda de manhã eu nasci.
Mamãe disse que eu deveria ser bonita,bebê modelo.
Vesti minha primeira máscara de bom grado.
Na terça, tinha 9 ou 10 anos.
Papai me disse que eu deveria ser a melhor
A mais forte, e nunca, nunca errar.
Vesti minha segunda máscara, pesou um pouco,mas se encaixou.
Quarta, eu era adolescente
Vovó queria que eu escolhesse a medicina
Profissão digna,dá dinheiro,dá status.
Essa máscara doeu. Afinal. Era pela arte que eu me apaixonara.
Quinta, eu era jovem
Papai me juntou com o filho do seu patrão
Eu amava José, mas José não era o padrão
Pobre, pintor. Ah,José..
Vesti minha máscara,e Maurício, o filho do patrão, me desposou
Sexta, eu era mãe
Mãe,esposa, infeliz, miséria de vida.
Mas lá estava,a bela máscara costurada em meu rosto para não cair.
Sábado, eu abri meu armário.
Não tinha roupas.
Nem sapatos.
Nem acessórios.
Só máscaras.
Penduradas, presas,ancoradas,encostadas.
Algumas eu nem reconhecia,de tempos distantes parecia.
De pré-adolescente contente, de aceitar a religião me imposta, de boa e submissa esposa.
No domingo, eu morri.
No meu testamento,deixei bens aos meus filhos.
A única coisa que pedi foi que me enterrassem com escândalosa maquiagem.
Afinal, se vivi com máscaras,quero morrer com uma.
E que seja a mais bela delas,afinal,depois do sono eterno,segue-se o juízo. E lá, espero que nunca tenha carnaval.”


- Angel Lee

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