segunda-feira, 2 de maio de 2011

QUASE (POR LUÍZ FERNANDO VERÍSSIMO)

   
   Ainda pior que a convicção do não, e a incerteza do talvez, é a desilusão de um QUASE.
  É o QUASE que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi
  Quem quase ganhou ainda joga; quem quase passou ainda estuda; quem quase amou, não amou.
  Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas ideias que nunca saíram do papel, por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna?
  A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
  Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados, e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não aflige, nem acalma. Apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
  Preferir a derrota prévia à dúvida da vitória, é desperdiçar a oportunidade de merecer; para os erros há perdão; para os fracassos, chance; para os amores impossíveis, tempo.
  De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor, não é romance.
  Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando...Fazendo que planejando...Vivendo que esperando...Porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.


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