quinta-feira, 8 de setembro de 2011

"Um chofer de caminhão conheceu um lugar, uma pensão de uma tal madame, em um conto belíssimo de nossa amiga Lygia Fagundes Telles. Um lugar cheio de anões se enroscando, de comida estranha, de gente estranha. E um som triste de um saxofone se fazia ouvir. O chofer, estranhando a música ininterrupta, quis saber quem era o homem do saxofone. Explicaram que, enquanto a mulher, magra e bonita, nova, se deitava com quantos homens quisesse, ele tocava saxofone. O homem quis saber mais, não conseguiu entender o porquê das traições consetidas:

- E você aceita tudo isso assim quieto? Não reage? Por que não lhe dá uma boa sova, não lhe chuta com mala e tudo no meio da rua? Se fosse comigo, pomba, eu já tinha rachado ela pelo meio! Me desculpe estar me metendo, mas quer dizer que você não faz nada?

- Eu toco saxofone.

E o homem parecia feito de gesso de tão pálido o seu rosto, de tão ausente de atitudes."

(Gabriel - Cartas entre amigos)

#quantas vezes somos assim: ausentes de atitudes; tocamos saxofone como se isso resolvesse algo.

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