domingo, 1 de abril de 2012



Coincidência ou não, depois de tantos meses, andando na rua durante aquela tarde tão repleta de saudade, encontrei um velho vendedor de flores com apenas uma espécie em seu carro de vendas: tulipas. Ainda me lembro como se fosse recente da vez em que você me contou sobre sua paixão por essa flor, que tinha a forma tão parecida com a de um beijo ou de uma mordida. Seis pétalas unidas, mas não dependentes, e sim complementares em seu apoio perfeito umas às outras. Você disse ainda que tulipas não precisavam ter cor, sendo tão lindas como de fato são, embora tivesse comentado em seguida, em contraposição, que cada cor de uma flor certamente representa um sentimento ou sensação. Lembra-se quando, depois de todas aquelas crueldades ditas entre nós, você achou jogada ao chão da porta de sua casa uma tulipa mesclada das mais diversas belas cores? Você recolheu-a como se fosse uma criança indefesa, e tentou fazê-la reviver por dois dias, em vão. Ao fim da segunda tarde em repouso no copo com água, ela deitou-se caída, cansada, chorosa. E tu, com um olhar melancólico engolido, disseste, certamente não querendo se referir apenas à flor morta:
— Essa certamente foi tudo. Foi amor, alegria, ciúme, raiva, desespero. Foi coração de gente. — e baixinho, em seguida, disse à si mesma — Da gente.
E eu entendi tudo. Quisera não ter entendido.


- A Bíblia dos Becos, por Bianca Landi





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