Imagine
que vou fazer uma longa viagem, sem saber quando volto, e você vai até a
estação de trem para se despedir de mim. Se depois nos comunicarmos por
carta ou telefone e nos lembrarmos da despedida, não estaremos falando
da mesma coisa, mesmo que imaginemos que sim. A minha lembrança e a sua
serão diferentes, isso quando não forem exatamente opostas. Você se
lembra de um homem que se afasta em um trem e que acena da janela. Mas
eu me lembro de um homem imóvel em uma plataforma e de que ele ficava
cada vez menor. É a única coisa que podemos compartilhar: a sensação do
outro ficando menor. Trata-se de algo que encontra eco em nossas emoções.
Quando nos distanciamos fisicamente de alguém, sua presença no
inconsciente se reduz progressivamente. Talvez, nesse sentido, o que
acontece no nível óptico seja mera preparação para o que acontecerá na
mente. Mas voltemos ao início: a experiência nunca pode ser
compartilhada. Ela é servida sempre em frascos individuais.
- Fransesc Miralles em: Nietzsche para estressados, de Allan Percy
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