quinta-feira, 7 de junho de 2012

" Fiquei sabendo que na China há um rio chamado Amarelo. Ele é diferente de todos os outros rios que há no mundo, por uma razão muito simples. Ele acaba antes de morrer. Já me explico, pois sei que sua inteligência já está incomodada com esse jogo de palavras, e certamente já se pergunta "Acabar e morrer não são a mesma coisa?" . Creio que não. Aqui , neste caso, é mais que acabar.
  Ao dizer que o destino de todo rio é morrer no mar, isso nos sugere que haverá uma transformação. O que temos é a possibilidade de continuidade. O rio, ao morrer no mar, em mar se transforma. Ganhou da vida uma nova maneira de continuar.
  Ao se misturar em outras águas, ele entra numa nova perspectiva, avança, transforma-se, torna-se mais. Mas quando digo que o rio acaba, isso nos sugere que ele não alcançou o lugar da transformação. Ele acabou antes de morrer. Acabar é uma forma de ficar pelo caminho, pela metade, sem nenhuma possibilidade de continuidade. O rio Amarelo acaba porque não tem força para ir além. Não tem água suficiente para que se encaminhe ao seu destino. A morte, dom que o transformaria em mar, nunca é alcançada por ele.
  Como isso é triste, meu caro Alfredo. Não há remanso suficiente para conduzi-lo ao seu mistério final. Faltam-lhe afluentes, águas fraternas que lhe emprestam corpo para chegar. Por isso ele acaba antes de morrer."

- Pe. Fábio de Melo - Tempo de Esperas

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