Gabriela não diria; se pudesse escolher,
teria ficado calada, mas lhe escapou: “Meu coração tá ferido de amar
errado. De amar demais, de querer demais, de viver demais. Amar, querer e
viver tanto que tudo o mais em volta parece pouco. Seu amor, comparado
ao meu, é pouco. Muito pouco. Mas você não vê. Não vê, não enxerga, não
sente. Não sente porque não me faz sentir, não enxerga porque não quer. A
mulher louca que sempre fui por você, e que mesmo tão cheia de defeitos
sempre foi sua. Sempre fui só sua. Sempre quis ser só sua. Sempre te
quis só meu. E você, cego de orgulho bobo, surdo de estupidez, nunca
notou. Nunca notou que mulheres como eu não são fáceis de se ter; são
como flores difíceis de cultivar. Flores que você precisa sempre cuidar,
mas que homens que gostam de praticidade não conseguem. Homens que
gostam das coisas simples. Eu não sou simples, nunca fui. Mas sempre
quis ser sua. Você, meu homem, é que não soube cuidar. E nessa de
cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de
amar demais, de querer demais, de esperar demais. Dessa minha mania tão
boba de amar errado. Seja feliz.”
- Caio Fernando Abreu
- Caio Fernando Abreu
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