Diferença gritante
Tive
a infelicidade (ou talvez felicidade, não sei) de chegar em casa hoje e
me deparar com o canal da Band ligado. Sentei na mesa para fazer minhas
unhas, afinal, é sexta-feira! Até que enfim!
No momento, passava mais um daqueles programas maçantes e sensacionalistas do apresentador José Luiz Datena. Uma das matérias falava sobre um músico bêbado que, ao voltar de uma festa pela manhã, bateu no carro de um policial. O acidente resultou em bate-boca, e o homem, aparentemente embriagado, apareceu numa gravação feita pela emissora a atacar o policial com tentativas de socos e chutes. O policial não reagiu em momento algum. Apenas pegou as chaves do carro do homem para que ele não fugisse e recorreu ao 190 para pedir reforço.
Terminada a transmissão da matéria, o apresentador, furioso (como sempre!), disse que o policial deveria era ter batido no rapaz, ao invés de agir com tanta paciência. Que devia mesmo era ter descido o cacete, já que ele poderia justificar autodefesa.
Apesar de não ter exatamente me surpreendido com a atitude do apresentador, fiquei, ao mesmo tempo, inconformada. É devido a mentalidades semelhantes a dele que policiais ferem, todos os dias, estudantes, trabalhadores, ativistas, crianças e até mesmo idosos. E com isso não quero dizer que essas pessoas sejam exatamente culpadas ou inocentes nas situações que lhes cabem, mas, de uma forma ou de outra, não deixam de ser, também, vítimas. É por causa de pensamentos assim que pessoas são assassinadas todos os dias, algumas inclusive por espancamento.
Em um programa no qual são sempre divulgadas as atrocidades que alguns seres humanos cometem com inocentes, o próprio apresentador mantém uma opinião obscena dessas. E o que é pior: divulga-a como se fosse algo digno de orgulho.
Posterior ao seu programa, teve início o Jornal da Band. Nunca fui fã de jornais e de nenhum apresentador em especial, confesso. Também não sou de acompanhar as notícias fielmente. Estava, ainda, a fazer minhas unhas, quando a mesma matéria passou no programa. Com as mesmas cenas, creio até que com a mesma narração. Porém, antes de dar por concluída sua transmissão, o apresentador, Ricardo Boechat, resolveu também fazer um comentário pessoal com relação a atitude do policial diante do seu agressor. Ele parabenizou o policial. Distribuiu elogios, dizendo o quão profissional ele tinha sido, quão pacientemente havia reagido. Disse também que era realmente dessa forma que um policial de verdade tinha de reagir diante de situações como essa: com calma, profissionalismo e cuidado.
Não sei bem se Boechat o fez para encobrir a atitude porca do seu colega de emissora, mas se o fez, o fez bem. Eu, como futura estudante de jornalismo, me senti com a fé renovada com relação à mídia atual (e eu já a dava como perdida). Boechat, com um discurso calmo e medido (ao contrário do outro apresentador), conseguiu esclarecer suas ideias e colocá-las à mesa da melhor forma possível. Ganhou a minha admiração.
Enfim, eu apenas queria desabafar sobre isso. Queria poder compartilhar com alguém o quanto grande parte da mídia atual é porca, sensacionalista, do tipo que gosta de ver o oco das pessoas, sejam, ou não, inocentes, se isso for o que lhes trará audiência. Mas, por outro lado, também queria poder trazer algo de esperança aos desiludidos que, como eu, pensavam que tudo estava perdido. Boechat nos provou que não está.
E foi com isso que abriu os meus olhos (e espero que de mais pessoas) para a diferença gritante entre um ignorante e um sábio.
— Bianca Landi
No momento, passava mais um daqueles programas maçantes e sensacionalistas do apresentador José Luiz Datena. Uma das matérias falava sobre um músico bêbado que, ao voltar de uma festa pela manhã, bateu no carro de um policial. O acidente resultou em bate-boca, e o homem, aparentemente embriagado, apareceu numa gravação feita pela emissora a atacar o policial com tentativas de socos e chutes. O policial não reagiu em momento algum. Apenas pegou as chaves do carro do homem para que ele não fugisse e recorreu ao 190 para pedir reforço.
Terminada a transmissão da matéria, o apresentador, furioso (como sempre!), disse que o policial deveria era ter batido no rapaz, ao invés de agir com tanta paciência. Que devia mesmo era ter descido o cacete, já que ele poderia justificar autodefesa.
Apesar de não ter exatamente me surpreendido com a atitude do apresentador, fiquei, ao mesmo tempo, inconformada. É devido a mentalidades semelhantes a dele que policiais ferem, todos os dias, estudantes, trabalhadores, ativistas, crianças e até mesmo idosos. E com isso não quero dizer que essas pessoas sejam exatamente culpadas ou inocentes nas situações que lhes cabem, mas, de uma forma ou de outra, não deixam de ser, também, vítimas. É por causa de pensamentos assim que pessoas são assassinadas todos os dias, algumas inclusive por espancamento.
Em um programa no qual são sempre divulgadas as atrocidades que alguns seres humanos cometem com inocentes, o próprio apresentador mantém uma opinião obscena dessas. E o que é pior: divulga-a como se fosse algo digno de orgulho.
Posterior ao seu programa, teve início o Jornal da Band. Nunca fui fã de jornais e de nenhum apresentador em especial, confesso. Também não sou de acompanhar as notícias fielmente. Estava, ainda, a fazer minhas unhas, quando a mesma matéria passou no programa. Com as mesmas cenas, creio até que com a mesma narração. Porém, antes de dar por concluída sua transmissão, o apresentador, Ricardo Boechat, resolveu também fazer um comentário pessoal com relação a atitude do policial diante do seu agressor. Ele parabenizou o policial. Distribuiu elogios, dizendo o quão profissional ele tinha sido, quão pacientemente havia reagido. Disse também que era realmente dessa forma que um policial de verdade tinha de reagir diante de situações como essa: com calma, profissionalismo e cuidado.
Não sei bem se Boechat o fez para encobrir a atitude porca do seu colega de emissora, mas se o fez, o fez bem. Eu, como futura estudante de jornalismo, me senti com a fé renovada com relação à mídia atual (e eu já a dava como perdida). Boechat, com um discurso calmo e medido (ao contrário do outro apresentador), conseguiu esclarecer suas ideias e colocá-las à mesa da melhor forma possível. Ganhou a minha admiração.
Enfim, eu apenas queria desabafar sobre isso. Queria poder compartilhar com alguém o quanto grande parte da mídia atual é porca, sensacionalista, do tipo que gosta de ver o oco das pessoas, sejam, ou não, inocentes, se isso for o que lhes trará audiência. Mas, por outro lado, também queria poder trazer algo de esperança aos desiludidos que, como eu, pensavam que tudo estava perdido. Boechat nos provou que não está.
E foi com isso que abriu os meus olhos (e espero que de mais pessoas) para a diferença gritante entre um ignorante e um sábio.
— Bianca Landi
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