“A morte tem me visitado em
horas diversas do dia, a ideia dela surge em conta-gotas, e muitas
vezes não é a morte minha, mas a sua, o que facilitaria muito as coisas,
você morto não me trai, você morto não me dá esperança de retorno, você
morto não me enviará o e-mail que tanto aguardo, você morto é a
tranquilidade certa da minha alma. Morrendo você, eu é que descansaria
em paz.
Mas isso eu não digo pra você, eu adoraria te encontrar e te dizer os
piores desaforos, te chamar de tudo, berrar os palavrões mais
inqualificáveis, abalar teus brios, mas não faço nada disso, agora fico
em silêncio tal como você, os dois manipulando um ao outro com a
quietude, apostando num desaparecimento que sempre alimenta
interrogações, você tem vontade de me procurar? Quem de nós dois vai
resistir mais tempo? Quando não desejo você morto, alimento a fantasia
de que você seria capaz de assaltar um banco para ficar comigo outra
vez.”
— Fora de Mim, Martha Medeiros
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