sábado, 3 de dezembro de 2011

O que eu sou não lhe diz respeito, em parte nenhuma lhes toca. Nasci para poucos e morro por quase ninguém. Contradigo-me, querendo muito e gostando tão pouco. Não é insatisfação ou sofrimento, é só um tudo ao mesmo tempo que não respeita amor a menos, não aceita um gostar pouquinho e um querer às vezes. Uma intensidade que não se conforma com noites únicas de começo, meio e fim. Se estou aqui é pela música, pela companhia, pra me perder. Jamais pra desperdiçar uma noite com quem não sabe conversar… Não me pergunte o que eu faço da vida, isso é banal, é triste, é comum. Queira saber o que me faz feliz, o meu ponto fraco pras cócegas. Não pergunte o que me dá dinheiro, porque este é o menor dos meus sucessos. Esqueça o meu nome verdadeiro, se venho sempre aqui, se estou gostando da música. Agir sem naturalidade é o vosso maior fracasso. E se é mesmo importante que responda as perguntas que tanto desprezo, se definir o que sou vos vai fazer mais feliz, se quereis mesmo saber de mim, começai pelas entrelinhas. Pelo não dito. Pelo movimento dos cílios e pelas pupilas dilatadas, os olhos nervosos que não se fixam, o modo de apoiar o peso do corpo numa das pernas… Olhe para as mãos que não sabem repousar e a voz que desafina. Por favor, sou tão ridiculamente fácil de decifrar e ainda insistem em ir pelo caminho errado. Exponho-me tanto e ainda querem um mapa. E fazem isso porque amam de relance, querem apenas no momento e só por desafio. Porque têm preguiça ou medo de cumplicidade, acreditam perder a noite se optarem por apaixonar-se. Porque perdem oportunidades de calarem-se quando é o papel dos olhos falar. É por isso que estou sozinho neste mundo de luzes e pessoas. É por isso que eu saio de casa e a minha roupa não precisa agradar a ninguém para além de mim. Porque não deixo a minha rotina pra ser uma prenda de Natal.O que eu sou não te diz respeito, em parte nenhuma te toca. Mas se quiseres mesmo saber sobre mim, experimenta não me perguntares. E talvez assim desperte a minha vontade de contar…
 

- Tati Bernardi

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